Um concurso diferente mobilizou a cidade de Petrópolis (RJ), também conhecida como Cidade Imperial, município localizado no interior do Rio de Janeiro, na Região Serrana Fluminense: “rapazes elegantes e efeminados” se reuniram para definir quem era o melhor na arte de bordar e pintar almofadas trazidas da Europa, especialmente, para a ocasião. Assim definiu o escritor Raimundo Magalhães Jr., conhecedor das modas daqueles tempos, biógrafo de João do Rio e pai da carnavalesca Rosa Magalhães, ao contar como teria surgido o termo “almofadinha”, usado para designar na época “tipos afetados, cheios de salamaleques e não‐me‐toques”.
Em nossos dias, homens que bordam, certamente, não são mais novidade no meio artístico. Bispo do Rosário e Leonilson produziram uma imensa obra baseada em, entre outros meios, bordados. Porém, fora deste meio, ainda vemos de narizes torcidos e até reações mais violentas ao fato de que há homens que bordam, ou que tem como base de seus trabalhos, atividades entendidas como “femininas”, o que para uma boa parcela da população brasileira estaria “errado”.
Tudo começou em meados de 2015, quando os três artistas começaram a realizar conversas à distância, por meio das redes sociais, sobre as afinidades conceituais e imagéticas de suas obras e como poderiam fazer algo coletivamente.
Em pouco tempo, adotaram o termo Almofadinhas para denominar o grupo e o primeiro projeto de exposição que começaram a desenvolver, o qual reuniu produções dos três artistas. Projeto este desenvolvido de forma a apresentar os trabalhos da maneira mais interligada possível, privilegiando-se as temáticas e similaridades entre as obras: a expografia adotada pelo coletivo, tinha como objetivo provocar um entrelaçamento das séries. O critério seguido para apresentação foi, principalmente, os temas abordados pelos artistas que se encontram não apenas pela linguagem (linhas, agulhas e tecidos), mas também pelos signos representados.
A exposição Almofadinhas teve sua estreia em Belo Horizonte, cidade de Rodrigo Mogiz, em fevereiro de 2017, na Galeria GTO do SESC Palladium. Pretende-se agora promover a circulação do projeto por toda a região Sudeste, uma vez que cada artista nasceu, vive e trabalha em um estado desta região.
Almofadinhas, além de um grupo de artistas e um projeto de exposição itinerante, ao trazer o bordado masculino mais uma vez para o campo da Arte Contemporânea, promove espontaneamente por onde passa um debate que acaba por provocar a tradição ocidental patriarcal, arraigada à ideia de que esta é uma atividade artesanal do campo feminino, doméstico e de importância inferior, ampliando as discussões sobre questões de gênero, afetividade, memórias e sexualidade.
Bibliografia
MELO, Alexandre Vieira da S. Melindrosas e almofadinhas: O masculino e o feminino por meios das charges nas revistas ilustradas (Recife, década de 1920), IN: Anais do 18º REDOR, Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2014.
MIGÃO, Pedro. Histórias Brasileiras – “Almofadinha – a Origem”, IN: Ouro de Tolo, 06/05/2013.
PINTO, Tales. República Velha (1889‐1930), IN: Brasil Escola, sem data. Disponível em:
brasilescola.uol.com.br/historiab/republica‐velha‐1889‐1930.htm, acessado em: 12/07/2016